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NÃO CONFIÁVEL: Instituto que aprovou administração Flá tem pesquisas impugnadas em vários estados


Originária do latim, a palavra “verita” significa verdade, em português. Sem dúvida um nome forte para um instituto de pesquisas eleitorais. Inspira confiança e dá a entender que, teoricamente, os resultados de suas pesquisas primam pela verdade. Mas, na prática, a teoria é outra. Em alguns casos, o nome pomposo pode ser o único traço de verdade. E isso não basta para garantir credibilidade ao trabalho.

O Instituto Veritá, por exemplo,se apresenta como uma empresa com “experiência em pesquisas mercadológicas, governamentais e políticas eleitorais” e, acredite se quiser,se diz “referência nacional pela confiabilidade, imparcialidade e precisão nos resultados das pesquisas (...) com índices de acertos superiores aos demais institutos do Brasil, com destaque para acertos em eleições presidenciais”.

Mas uma rápida pesquisa em fontes jurídicas mostra que não é bem assim. O Instituto Veritá possui dezenas de ações na Justiça Eleitoral em vários estados e em várias eleições. Somente relativas ao pleito de 2016 foram registradas 12 ações judiciais.

Mas há outras. Muitas outras. Em vários despachos, os juízes afirmam que as pesquisas do Instituto Veritá estavam prejudicadas por erros graves e imprecisões que resultaram em conclusões completamente fora da realidade.

Alguns erros são pueris, banais e, de certa forma, até infantis, para um instituto que pretende descobrir a chance de vitória de um candidato a prefeito, governador ou presidente da República. Ou ainda prever os índices de aprovação de um governo, quatro anos adiante.

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Em sua página no Facebook, o Instituto Veritá diz que a administração Flá ficou em primeiro lugar e foi aprovada em 0 áreas

NÃO CONFIÁVEL

Esse é o caso de uma pesquisa impugnada pela Justiça Eleitoral de Araguari-MG na eleição municipal de 2012. A juíza da 16ª Zona Eleitoral considerou que a tal pesquisa feita pelo Instituto Veritá (e registrada sob o n. MG-01132/2012) não era confiável porque não levava em conta peculiaridades como escolaridade e nível econômico dos entrevistados; porque havia erro matemático entre o nível de confiança da pesquisa, que seria de 95%, e a margem de erro, que seria de 4,4%. Além disso, jogou no mesmo balaio de gatos pardos todos os entrevistados entre 16 e 24 anos e todos os entrevistados acima de 60 anos, não fazendo separação entre quais estão entre 16 e 18 anos e os maiores de 70 anos, cujo voto é facultativo. O desembargador do RE-MG que julgou o recurso da empresa levou apenas um dia para manter a proibição de divulgação da pesquisa, dizendo que poderia comprometer a lisura do pleito. A decisão pode ser conferida na página 79 da edição do Diário Oficial de Minas Gerais publicada no dia 9 de outubro de 2012. LEIA AQUI

Na eleição seguinte, 2016, os erros de outra pesquisa feita pelo Instituto Veritá em Santa Cruz das Palmeiras-SP voltaram a ser classificados como graves.

Segundo a coligação “Emprego e Desenvolvimento”, a pesquisa tinha uma série de irregularidades. Não havia informações sobre os bairros abrangidos na pesquisa, o número de pessoas consultadas era menor do que o correto, e o instituto tinha informado fontes diferentes de dados (Censo 2010, PNAD 2012, PNAD 2014, TSE 2016 e outras) e uma para cada tipo de informação, o que causaria “resultados falsos”. Além disso, a pesquisa do Instituto Veritá tinha “graves erros e omissões em sua metodologia, uma vez que falava em amostragem aleatória simples e depois em amostragem estratificada”.

Em 28 de setembro de 2016, O Diário Oficial publicou a decisão dos desembargadores que concordaram, de forma unânime, em impugnar a pesquisa por ter descumprido o artigo 2º da resolução 23.453/13 do TSE. LEIA AQUI

DUVIDOSA

Em 2017, o mesmo Instituto Veritá fez uma pesquisa de opinião em Jales, na qual concluiu que 75,9% da população jalesense aprovavam a administração Flá. O instituto também concluiu que a avaliação de governo por conceitos ótimo ou bom somavam 81,1%; ruim e péssimo 7,9% e regular 11%. A pesquisa ouviu 407 cidadãos entre os dias 20 de Março e 12 de Abril de 2017, portanto, depois de apenas 100 dias de governo.

Apesar do pouco tempo de gestão, o Instituto Veritá previu que ao fim dos quatro anos de mandato, a administração do prefeito Flá terá aprovação 71,7% dos entrevistados e será reprovada por apenas 3,7%. Outros 24,6% preferiram ficar neutros. Esse é, provavelmente, um verdadeiro fenômeno histórico no mercado de pesquisas de opinião pública.

PREMIAÇÃO

Mas não para por aí. Em sua página no Facebook, o Instituto Veritá está ameaçando voltar a fazer uma pesquisa em Jales. “E hoje, aos 1.000 dias, você diria que o governo FLÁ está: ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo?”, anuncia um texto padrão publicado no dia 27 de setembro. Um dos irmãos do prefeito chegou a compartilhar, mas apagou horas depois.

A confiabilidade do Instituto Veritá pode ser medida não apenas pela falta de precisão de suas pesquisas, mas também pelas suas praticas comerciais. O texto padrão que avisa sobre a pesquisa/prêmio em Jales também foi publicado na mesma data falando sobre prefeitos e municípios diferentes. Entre eles, Santa Fé do Sul, Fernandópolis, Votuporanga, Rio Preto e dezenas de municípios em São Paulo e Minas Gerais.

Ou seja, muda-se apenas a foto, o nome do politico e alguns números que teriam sido levantados pelas pesquisas e vende-se o pacote.

“No prêmio de GESTÃO PÚBLICA 2017 a Prefeitura Municipal de Jales ficou em primeiro lugar e recebeu premiação em 0 áreas”, diz o anúncio que avisa: “Vem ai o prêmio de gestão pública 2019. Pesquisa de avaliação da gestão e dos serviços públicos nos municípios dos estados de São Paulo e Minas Gerais. Receba bem nossos pesquisadores”, pede o anúncio.


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