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Brasil, país cristão? (1ª Parte) - artigo semanal da Diocese de Jales


Pe. Prof. Dr. Telmo José Amaral de Figueiredo

Comissão Bíblica – Diocese de Jales

É muito comum ouvir dizer que o Brasil é o maior país católico do mundo, ao menos até

umas décadas atrás, ou então, que ele é um dos maiores países cristãos da Terra. De fato, na boca dos brasileiros é usual ouvirmos expressões como estas: “vai com Deus”, “graças a Deus”, “Deus me livre”, “só Deus sabe”, “minha Nossa Senhora!”, “Deus lhe acompanhe” etc. As pesquisas confirmam essa sensação de extrema religiosidade do povo brasileiro. Segundo a pesquisa Global Religion 2023, produzida pelo instituto Ipsos (multinacional de pesquisas com sede em Paris, França), no Brasil, nove em cada dez pessoas (89% para ser exato) dizem crer em Deus ou em um poder superior, o que posiciona o nosso país no topo dos 26 pesquisados, juntamente com a África do Sul (89%) e a Colômbia (86%). Holanda (40%), Coreia do Sul (33%) e Japão (19%) foram

os países onde a população menos crê em Deus ou em um poder superior, de acordo com essa pesquisa.


Padre Telmo Figueiredo
Pe. Prof. Dr. Telmo José Amaral de Figueiredo Comissão Bíblica – Diocese de Jales

Ainda, segundo essa mesma pesquisa, 70% dos brasileiros disseram que acreditam em Deus como descrito em escrituras religiosas, como a Bíblia (cristãos), o Alcorão (islâmicos), a Torá (judeus), entre outros, e 19% acreditam em uma força superior, mas não em Deus como descrito em textos religiosos. Cerca de 5% dos brasileiros disseram não acreditar em Deus ou em um poder maior, 4% afirmaram que não sabem e cerca de 2% preferiram não responder. Ainda não temos os resultados do último censo demográfico do IBGE (2022) sobre religião, mas uma pesquisa do Instituto Datafolha de junho de 2022, com 2.556 entrevistados de 16 anos ou mais em 181 municípios, revelou que 51% da população brasileira se declaram católicos, 26% se declaram evangélicos e há 2% de adventistas, outra linha do cristianismo.

Mas declarar-se crente em Deus não significa, necessariamente, ser adepto de uma igreja

ou instituição religiosa. De fato, enquanto 89% dos entrevistados ─ pelo instituto Ipsos ─ no país disseram crer em Deus ou um poder superior, só 76% afirmaram seguir uma religião. É expressivo, também, o percentual daqueles que afirmam não crer em Deus, segundo o Datafolha, 12% da população em geral e 34% dentre os jovens não seguem alguma religião.

Agora, o fato de termos 77% de nossa população, segundo a pesquisa Datafolha de 2022,

católica e evangélica, deveria fazer uma grande diferença no modo de vida do brasileiro, caso as pessoas, de fato, fossem cristãs autênticas, seguidoras de Cristo realmente!


Porém, a realidade brasileira mostra um quadro muito diferente desse ideal! É impressionante constatar que há:

a) igrejas que pregam que somente os seus membros se salvarão no Juízo Final;

b) igrejas que estimulam as boas obras e a fraternidade somente entre os seus próprios

membros, esquecendo-se das demais pessoas que vivem neste mundo;

c) igrejas que estimulam o individualismo, a busca pelo dinheiro e riquezas nesta vida;

d) igrejas que anunciam um Deus preocupado com o dinheiro, ou seja, aquilo que se doa

para a igreja em forma de dízimo;

e) igrejas que defendem o uso de armas, a sacralidade da propriedade privada;

f) uma população, cada vez mais, polarizada, raivosa, violenta, dividida que não sabe

dialogar entre si e não estimula a união e cooperação de todos pelo bem comum da

sociedade.

A lista é grande e poderia ser continuada. Mas é notório que a nossa sociedade brasileira

não apresenta, infelizmente, as características que se esperaria de uma sociedade cristã, de verdade! O nosso cristianismo não se traduz em obras e gestos concretos na vida do dia a dia! É um cristianismo teórico, devocional e individualista, que não tem uma incidência devida na vida social.

Na próxima semana, prosseguirei refletindo sobre o que seria uma sociedade cristã de

verdade. Aguardem, por gentileza.

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