Novos Projetos com Renovada Esperança - artigo semanal da Diocese de Jales
Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales
Fim de ano é oportuno para revisar nossas vidas, identificar desafios, decidir novos projetos e renovar esperanças. Os problemas sociais gravíssimos que enfrentamos, causados não somente pela pandemia, não podem ser desconsiderados nessa reflexão, afinal eles nos impõem limites.Por um lado, nossas escolhas pessoais determinam o rumo da nação. Por outro lado, a realidade do país nos condiciona.
Pessoalidade e coletividade, de fato, se interligam. Informações que dispomos, interpretações que fazemos e nossos posicionamentos pessoais, sobretudo em questões públicas, afetam também a todos. O necessário “balanço” de nossas vidas supõe, portanto, critérios éticos também sociais. A liberdade que defendemos, implica igualmente responsabilidade social, nem sempre valorizada e exercida.
Informações distorcidas que absorvemos de veículos poderosos de comunicação e muitas vezes compartilhamos, bem como análises tendenciosas sobre a realidade, revelam, no mínimo, superficialidade. Cabe-nos revisar o hábito de crer em todo tipo de informação, sem interpretar os interesses em jogo, e reconhecer quanto somos desinformados sobre o que é relevante em nossa vida social.
Imersos na cultura da informação, vivemos sob o signo da desinformação, desafio este a ser encarado por quem preza por lucidez. O desmonte feito nos últimos anos de muitas estruturas de representação da sociedade civil, criadas para orientar a implementação de políticas públicas, é um exemplo significativo de cerceamento da informação, da participação e do Estado Democrático de Direito.
Se muitos não compreendem o que está acontecendo no Brasil, que tentem pelo menos entender os sinais de contradição, a partir da extrema precariedade, do crescimento da miséria e do aumento da fome. A gravidade da situação merece uma parada para reflexão. Vale a pena insistir no que dá provas de insucesso? Quem ainda não enxerga, abra os olhos, pois cego, de fato, é quem não quer ver.
Nesse sentido, a cura do cego de Jericó, narrada por Lucas, é significativa. “Vê! A tua fé te salvou” diz-lhe Jesus, em atenção ao seu clamor: “Que eu veja!” (Lc 18,41-42). Com a mesma compaixão de Cristo, entidades signatárias do Pacto pela Vida e pelo Brasil, entre as quais a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, abrem-nos os olhos com sua declaração conjunta do último dia primeiro de dezembro:
“A crise sanitária escancarou um país injusto e desigual, com altos índices de desemprego e insegurança alimentar, e a Constituição Federal de 1988 prescreve, no seu art. 6º, que são direitos sociais do povo brasileiro ‘a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados’”.
“Direitos sociais não são favores de governos, mas deveres do Estado”. Essa declaração interpela-nos, assim, à proatividade. Assumamos pessoalmente e coletivamente esse desafio, inspirados na coragem comunicada por Cristo a quem lhe suplica ajuda: “tudo é possível a quem crê” (Mc 9,23).
Incorporemos esse corajoso apelo em nossos projetos pessoais e coletivos para 2022, com renovada esperança!
Jales, 9 de dezembro de 2021.
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