DA INDIFERENÇA À COMUNHÃO: UM CHAMADO À UNIDADE - artigo semanal da Diocese de Jales
Nas últimas décadas o mundo testemunhou significativas transformações e inovações. No
entanto, essas mudanças também trouxeram consigo desafios crescentes de viver em uma
realidade que permanece marcada por guerras, disputas políticas, intolerância, indiferença
e desigualdade. Esta realidade mostra que o mundo ainda não aprendeu a utilizar seus
avanços para a promoção de contextos que geram a unidade. O Papa Francisco, na
Encíclica Fratelli Tutti, afirma que, a história dá sinais de regressão quanto as tentativas
de promover a comunhão fraterna, à medida que se reascendem conflitos e formas de
violência que pareciam superadas. Ademais, observa-se que a noção de unidade é
instrumentalizada para interesses egoístas de determinados grupos, fator que contribui
para o fechamento ao diálogo.

Com o mundo imerso nessa realidade, as pessoas reproduzem a cultura da indiferença em variados contextos, como a família, relações de trabalho e a vida pastoral. Entretanto, essas adversidades não podem ser interpretadas como uma justificativa para a continuidade dos problemas que cercam a sociedade. Ao contrário, essas representam um
desafio que exige, de cada pessoa, proatividade para alcançar uma cultura de paz. Esses contextos se tornam ponto de partida para cultivar um espírito de fraternidade e solidariedade, que envolve as pessoas em uma caminhada rumo à transformação social.
A Constituição Lumen Gentium afirma que Deus escolheu salvar e santificar os seres
humanos, não individualmente, sem qualquer ligação entre estes, mas constituindo-se em
povo, comunidade, que unida O conhece, na verdade. No Antigo Testamento, o Profeta
Ezequiel revela que é possível alcançar a paz a partir da comunhão fraterna, ao manifestar
a vontade de Deus em reunir os Seus filhos e filhas, para formar uma aliança de paz com
o Seu povo (Cf. Ez 37, 17-26). Por sua vez, no Novo Testamento, Jesus convida todos os
seres humanos a se amarem mutuamente para alcançar o Seu amor (Cf. Jo 13,34). Com
este novo mandamento, todas as pessoas são chamadas na construção de uma cultura que favoreça a unidade, a partilha e o respeito à dignidade humana.
É necessário compreender que o princípio que une os seres humanos é maior do que os
conflitos que os dividem, bem como buscar caminhos em que ambas as partes sejam
respeitadas. Nesse contexto, a comunhão fraterna surge nas partilhas dos conhecimentos
e na disposição em dialogar, escutar e reconciliar. Assim, é preciso partir apressadamente
(Cf. Lc 1,39), cheios de esperança, à desafiadora missão de acolher nossos irmãos e irmãs
excluídos pelas formas de violência do mundo atual.
À luz desses ensinamentos, cada pessoa deve dar a sua contribuição, de sua família ao
mundo inteiro. A participação coletiva em iniciativas locais, a luta por trabalho,
alimentação e moradia digna, o envolvimento na vida pastoral, a educação para a paz e o
diálogo inter-religioso são exemplos de ações concretas que promovem a paz. Por fim,
nesse processo, que se constrói sistematicamente, chamado pelo Papa Francisco de
“artesanato da paz” e com a inspiração da Santíssima Trindade, que é modelo de unidade,
todos irão finalmente se encontrar e a paz prevalecerá.
Jales, 17 de janeiro de 2024.
Comments