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Toda a unanimidade é burra. E toda oposição sistemática também

  • Foto do escritor: Alexandre Ribeiro Carioca
    Alexandre Ribeiro Carioca
  • 16 de abr. de 2023
  • 3 min de leitura

Uma das frases mais famosas do escritor, diretor e jornalista Nelson Rodrigues diz que “toda unanimidade é burra e quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”.

Outro famoso escritor brasileiro, Carlos Drumond de Andrade, escreveu um poema crítico sobre a oposição sistemática que um certo jornal oposicionista “da Praça da Estação” fazia ao governo da sua época. “Xinga o presidente, xinga seus secretários, xinga o prefeito…”, escreveu o poeta mineiro sobre um jornal localizado na Praça Rui Barbosa, no centro de Belo Horizonte.

Uso as linhas famosas dos dois gênios brasileiros para dizer que ambos poderiam estar se referindo à postura de alguns políticos de Jales que correm o risco de permanecer na história como aqueles que queriam atrapalhar o adversário político, mas atrapalharam a cidade.

Nelson Rodrigues se referia ao que hoje em dia os estudiosos chamam de pensamento de manada, ou seja, o “Maria-vai-com-as-outras”, que não tem opinião própria e apenas segue o grupo, sem raciocinar muito sobre a direção e o destino.

Drumond apontava que a oposição sistemática é vazia e serve apenas a ela mesma. Ou nem mesmo a ela. Afinal, nehuma utilidade tem para a sociedade o político que “xinga presidente, prefeito, secretários…” em todas as situações e ocasiões, como se nada de positivo estivesse sendo feito ou se razão alguma houvesse em nenhuma decisão.

É certo que todos nós, como seres humanos, independente de cargo ou situação, precisamos de alguma oposição. Alguém que se oponha a atitudes e decisões mal analisadas e de suas possíveis consequências desagradáveis. Alguém que nos alerte. Os governantes também. Aliás, principalmente eles.

Quantas vezes, nossos pais, cônjuges, professores, amigos e até filhos nos alertaram para a pedra que iremos chutar, se continuarmos em determinado caminho? Mas é bastante óbvio que nenhum deles jamais teve o objetivo de atrapalhar o percurso nem de impedir a caminhada. Ao contrário: desejavam sucesso com eficiência e eficácia. Apenas indicavam a melhor direção para evitar dissabores mais adiante.

É assim que deveria funcionar a oposição política. Alertando para correções de rumo, contribuindo para o sucesso e não torcendo para o fracasso.

A oposição sistemática e unânime (no sentido de ser contra tudo que venha do outro lado) é burra até para quem faz. Afinal, é difícil acreditar que a sociedade enxergue com bons olhos uma postura que só visa impedir e atrasar a caminhada de outros, no caso, do governo. Pode-se discordar, e a política oferece ferramentas para discussão de alternativas que abram portas para o consenso desejável, mas há que se respeitar as decisões da maioria (no caso do parlamento) e de quem conquistou o direito de administrar, no caso do governo. A responsabilidade pelo fracasso e pelo sucesso é dele.

Negar título de cidadão a artista, acusar gente honesta de cometer desvios de recursos sem qualquer lastro (por pura demagogia eleitoreira), atrasar instalação de empresas, gritar, usar palavreado chulo, votar contra tudo e questionar qualquer coisa que venha do adversário, “xingar presidente, secretários, prefeito…” não é o que se espera de um bom político. Nem de uma pessoa comum na vida em comunidade. Quem age assim, sem dúvida, são aqueles de vida pública curta e efêmera que seguem os elogios fáceis de redes sociais, termômetros enganosos, traiçoeiros e inebriantes. Nunca serão estadistas.


Mas atenção: Ninguém pede que a oposição se omita de seu papel de oposição, que seja mansa ou faça ouvidos moucos. Foram eleitos para isso e qualquer governante precisa se ater aos seus apontamentos, provavelmente válidos. Mas todos esperam que os políticos – na oposição ou no governo – trabalhem em prol da cidade e não confundam crítica à administração com bloqueio sistemático de projetos. Afinal, se a oposição foi eleita para fiscalizar, quem está no governo foi eleito justamente para fazer o que propôs. Foi o projeto vencedor, o que a população escolheu e é preciso que se respeite.


Alertas para correção de rumo são apenas isso mesmo: alertas. Não podem ser bloqueios intransponíveis que paralisam a caminhada.

Jales precisa andar para frente, caminhar para o futuro. Apesar dos que são sempre “do contra”. Dos que xingam o presidente, xingam seus secretários, xingam o prefeito, xingam a cidade...


*O texto reflete a opinião do site

*Artigo publicado inicialmente no jornal A Tribuna



 
 
 

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