Revolução Constitucionalista de 1932 completa 89 anos nesta sexta-feira
Paulistas lutaram contra o autoritarismo de Getúlio Vargas e garantiram a liberdade dos brasileiros
Nesta sexta-feira, dia 9 de julho, a Revolução Constitucionalista de 1932 completa 89 anos. A resposta dos paulistas ao autoritarismo iniciado no golpe de 1930, que deu início à era de Getúlio Vargas, geraram efeitos que são sentidos até hoje, mesmo que o patriotismo regional tenha diminuído. Desde 5 de março de 1997, o dia de 9 de julho é feriado estadual em São Paulo. Proposição feita pelo ex-deputado Guilherme Gianetti foi assinada pelo governador da época, Mário Covas. Desde então, nesta data, os paulistas têm o feriado cívico para refrescar a lembrança da Revolução Constitucionalista de 32. Para o deputado Coronel Telhada (PP), o 9 de julho deve ser lembrado por todos os paulistas como uma data de liberdade e de imposição da vontade do cidadão que pensa no melhor para o Estado. "Nós, que estamos vivos ainda hoje, devemos ter sempre os ideais daqueles homens que lutaram pelo Brasil. Foi uma das maiores ações militares da América Latina, no século 20", afirmou o deputado.
História Em 24 de outubro de 1930, o presidente Washington Luís foi deposto, e o eleito para os próximos anos de mandato, o paulista Júlio Prestes, exilado. Em 3 de novembro daquele ano, Getúlio Vargas assumiu o chamado Governo Provisório, colocando fim à República Velha, conhecida pela famosa política do café com leite: soberania das oligarquias de São Paulo e Minas Genais. Fato ficou conhecido como Golpe de 1930 ou Revolução de 1930. Vargas, porém, demorou a organizar uma Assembleia Constituinte, fechou o Congresso Nacional e nomeou interventores (governadores) aos Estados, condutas de centralização de poder. O interventor de São Paulo não agradou aos paulistas. Para o historiador e professor David Ferreira Santiago, de 39 anos, a Revolução de 30 não foi uma revolução, apenas tem esse nome porque marca o fim da República Oligárquica. "O golpe de 30 é a decadência do regime regional do café com leite oligárquico. Os partidos eram estaduais e cada oligarquia tomava conta do seu partido republicano: leite em Minas Gerais e café em São Paulo. Eram quase que particulares dos fazendeiros e a maioria dos votos, de cabresto. Vargas era a antítese disso", disse. "Getúlio Vargas era o nosso conservadorismo modernista e autoritário. É a versão fascista do Brasil, como ele mesmo já assumiu ser um entusiasta. Então, em 30, comandou o primeiro movimento centralizador do país, mas de maneira autoritária", completou. A população de São Paulo não se contentou com os rumos do Governo Provisório. As mortes dos jovens Martins, Miraguaia, Dráuzio e Camargo (MMDC), em 23 de maio de 1932, durante confronto com forças do governo federal, foi o estopim da revolta paulista. Em 9 de julho, os revolucionários decidiram pegar em armas e repelir as forças federais. Eram cerca de 35 mil soldados do lado constitucionalista contra 100 mil varguistas. "Os constitucionalistas acusavam Vargas de ser ditador e autoritário. Vargas acusava São Paulo de atender somente a interesses de cafeicultores. As duas acusações estão certas", explicou o professor de história. A guerra civil trouxe um propósito à toda população. Durante a campanha "Ouro para o Bem de São Paulo", famílias doaram dinheiro e ouro para o movimento. Tinham desfiles infantis que exaltavam a bandeira do Estado. De fato, São Paulo caminhava unido, clamando por uma constituição ao povo brasileiro. O sentimento patriótico regional era unanimidade. "A revolução deu aos paulistas um sentimento patriótico regional. O marido e a esposa doavam suas alianças. Era uma honra para as famílias tradicionais paulistas. Tinham desfiles militares infantis, a bandeira de São Paulo era espalhada pelas cidades. É claro que São Paulo não tinha onde comprar armas e balas, já que quem comandava o comércio bélico no território era o governo federal. Mas isso não exclui a importância desse movimento popular. Com certeza, toda população paulista viveu esse tempo muito além da guerra: era uma união", afirmou o historiador. No dia 1° de outubro de 1932, quase três meses após o início do conflito, os paulistas se renderam, pois já não tinham mais homens e mantimentos suficientes para as batalhas. Oficialmente, 934 vidas foram perdidas em combate, embora que, extraoficialmente, existem registros de mais mortes - em torno de 2.200. Os líderes da revolução tiveram seus direitos políticos cassados e foram exilados em Portugal. O saldo da revolução foi positivo para os interesses constitucionalistas. Em 1933, os paulistas tiveram um interventor civil nascido em São Paulo e, em 1934, foi reunida a Assembleia Constituinte para que fosse escrita a nova Carta Magna do Brasil. "Se Vargas tivesse feito a proposta da Constituição antes da guerra, seria impossível fazer coisas que fez, pois desobedeceu ao Legislativo entre 30 e 32. Mas a participação paulista continuou, porque a política do café, de certa forma, permaneceu. Eu diria que há vantagens para ambos os lados", conclui David. Assembleia Desde 1968, quando foi construída em frente ao Parque do Ibirapuera, a sede do Parlamento Paulista tem o nome de Palácio 9 de julho, em memória à Revolução. Ela é localizada ao lado do obelisco Mausoléu aos Heróis de 32, ou Obelisco do Ibirapuera, que é um monumento construído em homenagem aos estudantes e soldados mortos na Revolução. Ele abriga os corpos dos estudantes do MMDC e de outros 713 ex-combatentes. É um patrimônio histórico tombado por conselhos estaduais. Na tribuna do Legislativo Paulista, quando reaberto em 1935, o deputado Laerte Teixeira de Assumpção, ao ser empossado presidente, ressaltou que a Constituinte foi fruto da Revolução de 32. "Assim instalada, prepara-se agora esta Assembleia para restituir a São Paulo os moldes e garantias do regime constitucional", disse. Também em homenagem, a Constituição Estadual de São Paulo foi promulgada em 9 de julho de 1935. Sobre o fato, o deputado Henrique Bayma, que era soldado e foi preso por participar da Revolução, afirmou: "Ninguém nega que o movimento de São Paulo fez a constitucionalização desse país. E o povo de São Paulo quer festejar o 9 de julho com a promulgação de sua Constituição. É dever imperioso desta Assembleia fazer que São Paula possa colher as recompensas de seu sacrifício". Todos os anos, no dia 9 de julho, ocorre o tradicional desfile cívico militar em frente à Assembleia Legislativa e ao Obelisco do Ibirapuera. Ele é de extrema importância para o povo paulista, pois refresca a memória da luta pela Constituição brasileira. Em 2019, foi realizado o último desfile, já que, em 2020 e 2021, não foram possíveis por conta dos cuidados contra o coronavírus.
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