Em votação histórica, vereadores rejeitaram retaliação à imprensa
Por 7 a 2, vereadores negaram intento de Bruno de Paula que queria retaliar veículos que o criticaram. Votação indica dificuldades do tucano no Conselho de Ética
A liberdade de crítica da imprensa é preceito constitucional e os políticos precisam se acostumar com ela. Eventuais conflitos devem ser resolvidos em outras instâncias. A Câmara Municipal e as prerrogativas dos seus integrantes não devem ser usadas para assuntos pessoais. Atitudes inadequadas dos vereadores, ainda que individuais, ferem a imagem do Legislativo como um todo.
Com base nesses conceitos, os vereadores de Jales rejeitaram praticamente por unanimidade um requerimento de Bruno Henrique de Paula (PSDB), que pretendia retaliar jornalistas que criticaram a sua atuação como vereador.
A votação elástica (apenas dois votos favoráveis) indica perda de paciência dos colegas com tantas polêmicas e pode ser prenúncio de revés em possível julgamento no Conselho de Ética.

A primeira a se manifestar foi a vereadora Ana Carolina Lima Amador (MDB). “Acho que esse tipo de questionamento está indo para o lado pessoal. A partir do momento que nos tornamos pessoas públicas, nos tornamos vidraças a ponde de receber pedradas de todos os lados. Se fossemos levar tudo a ferro e fogo, não estaríamos aqui”.
Carol já tinha se pronunciado de forma semelhante, ao se abster de votar a favor de um requerimento do mesmo vereador, que questionava informações contábeis de uma empresa de direito privado.
Ricardo Gouveia (PP) também opinou que se tratava de uma questão pessoal e não pública. “Acho que estão confundindo o lado pessoal como a função de vereador. Acho que quando colocamos o nosso nome à disposição, nós acabamos virando vidraça. Eu sofrei críticas nessa semana que passou, mas faz parte do jogo, não vamos agradar a todo mundo porque nem todo mundo pensa como nós. Temos que respeitar as criticas, absorver o que é bom e tentar fazer disso cada dia melhor”, disse.
O médico lembrou que a imprensa teve papel fundamental nas ações que reverteram a intenção de fechar a Delegacia de Polícia Federal em Jales. “Se não fosse a imprensa, tanto rádios, jornais quanto blogs e sites, estiveram [apoiando] a conquista da Polícia Federal ter continuado em Jales. Eu só tenho a agradecer à imprensa, pelo contrário, não tenho o que criticar. Críticas vamos sofrer o tempo todo. Sou contra esse requerimento porque já está saindo da parte política e levando para o lado pessoal”, concluiu.

Vanderley Vieira (DEM) ressaltou que homens públicos estão sujeitos à criticas e elogios. “Quando a gente erra vem as criticas. Quando a gente acerta vem os elogios. Às vezes até quando a gente acerta, as críticas também vem. Por sermos pessoas públicas, nos expomos. Na gestão passada, eu recebi várias e várias criticas. E era pancada. Mas eu nunca rebati e estou aqui de volta. O meu trabalho foi dividido em duas partes (críticas e elogios) e quero agradecer a imprensa no geral, que sempre divulgou o nosso trabalho com maestria. As que me criticaram me fizeram crescer”.
Deley alertou o colega que “o debate imprensa x vereadores vai desgastar o Legislativo”. “A gente tem que zelar por essa Casa de Leis. Trazer bons assuntos aqui dentro. Fomos eleitos pela população para trazer coisas boas”.
O mais experiente dentre os mandatários atuais, Riva Rodrigues (PP) seguiu na mesma linha. “A pessoa pública acaba sendo um alvo muito maior do que uma pessoa comum da sociedade. Afinal somos pessoas públicas, fomos eleitos e estamos suscetíveis a muitas criticas, comentários...e ora ou outra infundados, desprovidos de base. Então eu peço que seja revista essa posição porque não podemos transformar esse parlamento em palco de questões pessoais. O parlamento é muito maior do que isso. Aqui temos que tratar questões de foro coletivo, que dizem respeito à nossa comunidade”.
Ponderado como sempre, João Valeriano Zanetoni (PSD) destacou que a população tem muitas necessidades e demandas que precisam ser atendidas e não podem ser relegadas ou adiadas em troca de questões pessoais.
“A gente tem que trazer situações para a coletividade, para população, para a administração. Temos muitas situações a serem resolvidas e muitas não estão e a gente fica aí...A gente corre atrás e é criticado, mas temos sido responsáveis nos nossos atos. Somos dez pessoas com responsabilidade e não podemos perder isso. É difícil pra quem recebe a crítica, mas a gente não pode trazer isso para o nosso trabalho na câmara para que isso tire o tempo da gente estar resolvendo as situações do nosso município”.
Hilton Marques (PT) ressaltou que os vereadores precisam se ater às prerrogativas que o cargo permite e ter foco no trabalho. “Muito me preocupa essa relação que está sendo criada, passando um pouquinho daquilo que é positivo para discussão nessa Casa. Está indo além e as justificativas estão dentro do papel que são matérias, são criticas da imprensa e atente tem que saber lidar com isso. Eu fui criticado com inverdades sobre a minha posição no processo analisado pelo Conselho de Ética (no qual o voto do petista ajudou a absolver Elder Mansueli). Mas a gente tem que zelar r essa casa e trazer discussões com foco, com substâncias para fazer um trabalho positivo. Está indo para um lado muito ruim para essa Casa. Eu entendo que as criticas podem acontecer e a gente tem que enfrentá-las. O foco tem que ser o interesse público e as matérias não são do interesse público, se elas estão condizentes com o seu interesse pessoal. Aí eu acho que o local para essa discussão é outro. Aqui precisamos tratar das políticas públicas”.
Andréa Moreto Gonçalves (Pode) reconheceu que é desagradável receber críticas e julgamentos, que podem abater o ânimo, quando atingem a questão pessoal, mas é preciso refletir e se calar. A vereadora ressalvou que as críticas não devem atingir a vida pessoal dos criticados e pediu respeito sobre essa questão.
Requerimento pressionava prefeitura para romper contratos com críticos
Na parte reservada aos “considerandos” do Requerimento Nº 265/202, o vereador do PSDB questionava a administração os motivos pelos quais o “nome da prefeitura” figura nas notas fiscais de prestação de serviços emitidas pelas empresas de comunicação que o criticaram. No entendimento de Bruno de Paula, as críticas são financiadas pela prefeitura.
O vereador escreveu que “por inúmeras vezes, site tem proferido diversas ofensas aos vereadores da Câmara Municipal de Jales (...) e vem menosprezando os requerimentos exarados pelos edis”.
Sobre outro alvo, o vereador escreveu: “considerando, também, o mesmo vínculo do colunista do “Jornal A Tribuna”, proprietário do “Jales Notícias”, onde o mesmo fez uma com manchete caluniosa e tendenciosa sobre a pessoa do subscritor deste [o próprio Bruno], e com isso, o mesmo dá a entender que sou contra os Servidores Públicos Municipais, o que não é verdade”.
Os questionamentos feitos no requerimento não deixam dúvidas sobre a intenção do vereador. “Considerando as últimas postagens (...), quais providências o Poder Executivo tomará a fim de que nas notas fiscais emitidas pelas empresas não conste mais o nome da Prefeitura Municipal de Jales? É moral e legal que referidas empresas profiram ofensas e coloquem matérias com manchetes tendenciosas e inverídicas aos representantes legais da população? O Poder Executivo tomará que providências a fim de que tal fato, que menospreza os requerimentos exarados pelos edis, não volte mais a acontecer em prejuízo da população?”.
Andreá Moreto, Carol Amador, Deley Vieira, Hilton Marques, João Zanetoni, Ricardo Gouveia e Riva Rodrigues se abstiveram, rejeitando o requerimento. Bruno de Paula (PSDB) e Elder Mansueli (Pode) votaram favorável. Bismark Kuwakino, também do PSDB, equivocadamente tentou votar favorável, mas foi alertado pela assessoria da casa que os ocupantes da presidência não votam nesse tipo de propositura.
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