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A FRAQUEZA DAS ARMAS E A FORÇA DA DEMOCRACIA - Dom Demétrio Valentini

Artigo semanal da Diocese de Jales



Estamos ainda todos atônitos, diante da tragédia causada pela guerra na Ucrânia.

Não se sabe ainda que consequências possa ter este conflito, condenável sob todos os

pontos de vista.

Ninguém podia imaginar que para resolver pendências entre dois países, se

apelasse para os tanques de guerra, e se deixasse de lado tantos organismos

internacionais criados para respaldar o esforço de paz quando se agravam os conflitos.

Que consequências poderá ter a existência de um ditador, que aproveita o temor

de um conflito generalizado, para se sentir sem impedimentos para levar em frente seus

planos assassinos?

Dom Demétrio Valentini – Bispo Emérito de Jales

Que mundo é este que se vê imobilizado diante da desenvoltura de um ditador

que não tem escrúpulos de intensificar a matança de civis, para sustentar sua ganância de poder e dominação.

É urgente deter suas ambições. Mas é imprescindível ir recolhendo as lições que

a história pode nos oferecer.

Foi naquela mesma região, na Europa Oriental, no século passado, mais precisamente no ano de 1989, o mundo pôde contemplar, extasiado, a série de mudanças políticas, que se concretizavam na libertação de muitos países que há décadas eram submetidos a regimes ditatoriais, impostos pelo poderio da antiga União Soviética.

O processo todo começou na Polônia, em agosto de 1989. Foi quando o regime comunista renunciou à administração estatal, e a confiou ao “parlamento” que tinha sido eleito meses antes, sob a pressão do “Solidarnos”, o Sindicato dos operários, sob a liderança de Lech Valesca.

Em seguida à Polônia, por “efeito dominó”, foram caindo os regimes comunistas

na Hungria, Bulgária, Checo-slovaquia, Romênia, até que em novembro daquele ano

aconteceu o que todos imaginavam impossível: a queda do muro de Berlim, com a

consequente reunificação da Alemanha. Depois, em 1991, se consumava a

fragmentação da União Soviética.Tudo aconteceu, sem disparar um tiro, sem nenhum tanque, sem bombas ou foguetes mortíferos.

Pessoalmente, pude acompanhar de perto o fermentar político da tomada de

poder do regime democrático na Polônia em agosto de 1989.

Acontece que naquele ano a CNBB foi convidada a fazer parte de uma comitiva

de pessoas que queriam estudar a situação na Polônia, em vista de conhecer melhor sua

realidade, que se tornava o centro dos acontecimentos que iam se sucedendo. Este

interesse tinha aumentado com a eleição de um Papa Polonês.

Chegamos na Polônia no momento que não era mais possível adiar as soluções.

O povo estava urgindo as providências. E a grande dúvida era esta: tomamos o poder

agora, ou vamos aguardar que os militares o entreguem?

Todos recordavam a derrota contundente das eleições gerais. Nas cem vagas

existentes, o partido comunista não obteve nenhuma. 99 eram de pessoas indicadas pelo

sindicato.

Entre tantas lições, destaca-se uma: a legitimidade que as eleições conferem, aos

agentes públicos de uma nação.

Antes das eleições, os militares agiam com ares de superioridade frente aos

cidadãos comuns. Quando viram o resultado das eleições, mudaram de postura. Por sua

vez, os cidadãos se sentiam mais à vontade para se relacionar com os militares.

A restauração da democracia nos países europeus, no final do século vinte é

considerada, adequadamente, como um processo bem sucedido da política em nosso

tempo.

Mas é válido perguntar: por que não aconteceu de novo este processo no atual

confronto de interesses entre a Rússia e a Ucrânia? E a interrogação se completa com

esta outra: se em 1989 o ditador Putin fosse o “comandante supremo” do exército da

União Soviética, teria acontecido a democratização da Europa Oriental? Putin teria

deixado?

Aí entra em cena outra questão muito séria: quem cria os ditadores? Quem os

deixa agir impunemente, a ponto de se sentirem donos da vida de milhões de pessoas,

que sofrem as tristes consequências das arbitrariedades, toleradas e partilhadas pelos

parceiros dos ditadores?

Em que ninho são chocados os ditadores? Conferimos se os ovos que

acalentamos são de pombas inocentes, ou de abutres traiçoeiros?

Neste ano de eleições em nosso País é mais do que urgente conferir se com

nosso voto não estamos fortalecendo arroubos de candidatos que acenam com afagos de

regimes ditatoriais, que no íntimo desejam ver restaurados.

Quem tem saudades da ditadura, confira as tristes consequências desta guerra

bancada inteiramente por um ditador.

Ao pensar nas eleições de outubro, lembre-se de Putin!

“Memento Putin!”

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